Segundo STF, vínculo empregatício não existe para transportador autônomo

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Desde setembro de 2007, uma batalha jurídica vem sendo travada nos tribunais brasileiros, especialmente no Supremo Tribunal Federal (STF), em torno da natureza da relação entre os transportadores autônomos e as empresas de transporte rodoviário de cargas. A questão central é se existe relação de cunho empregatício ou comercial entre ambos.

A Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) no 3961, movida pela Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (ANAMATRA), contestava a Lei no 11.442/2007, marco regulatório que trouxe luz às dinâmicas do transporte rodoviário de cargas no país.

Esta lei, que estabelece a relação entre os agentes do setor como sendo de natureza civil, permitindo a contratação de autônomos para realizar o transporte de cargas sem configurar vínculo empregatício, foi o epicentro dessa contenda judicial. Continue a leitura desse artigo e saiba mais a respeito.

O embate legal entre justiça do trabalho e legislação civil

A Justiça do Trabalho, em suas interpretações, tem adotado uma postura que busca proteger os direitos dos trabalhadores autônomos, equiparando-os, em alguns casos, aos empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Um exemplo disso é o entendimento de que os autônomos podem ser equiparados a empregados, com base no princípio da isonomia, o que levanta questionamentos sobre a constitucionalidade de certas leis, como a Lei no 11.442/2007, que prevê a exclusão prévia do vínculo empregatício nos contratos de transporte de cargas.

Por outro lado, a Procuradoria Geral da República tem defendido uma interpretação mais restrita dos requisitos para o reconhecimento do vínculo empregatício, conforme estabelecido no artigo 3o da CLT.

Argumenta-se que dois elementos essenciais para o reconhecimento do vínculo empregatício, a pessoalidade e a subordinação, não se aplicam ao Transportador Autônomo de Carga (TAC). Destaca-se que o TAC exerce sua atividade de forma independente, sem subordinação direta a uma empresa, o que o diferencia, segundo a visão da PGR, do motorista-empregado.

Essa disputa jurídica reflete não apenas questões técnicas e legais, mas também implicações sociais e econômicas significativas. A decisão sobre a natureza do vínculo dos trabalhadores autônomos pode impactar diretamente nas condições de trabalho, nos direitos trabalhistas e na organização do mercado de trabalho como um todo.

Diante desse contexto, espera-se que o debate continue a evoluir, buscando encontrar um equilíbrio entre a proteção dos direitos dos trabalhadores e a garantia da segurança jurídica para as relações de trabalho.

Distinção entre profissionais autônomos e empregados CLT

A Confederação Nacional do Transporte (CNT) reforçou a diferenciação entre dois grupos dentro do setor: os Transportadores Autônomos de Carga (TAC) e os motoristas-empregados. Através da Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADI) no 48, a CNT buscou clarificar os diferentes papéis e responsabilidades desses profissionais.

De acordo com a ADI, os Transportadores Autônomos de Carga (TAC) são caracterizados por serem donos ou arrendatários dos veículos que utilizam, assumindo os riscos inerentes à atividade sem estarem subordinados ao contratante. Por outro lado, os motoristas-empregados

estão sujeitos às ordens e diretrizes do empregador, sem assumir os riscos da atividade, estando sob regime de subordinação.

Essa distinção é crucial no contexto do transporte de carga, pois impacta diretamente nas relações de trabalho e nos direitos trabalhistas garantidos a cada categoria. A ADI no 48 busca estabelecer uma base jurídica clara para evitar conflitos e garantir a proteção dos direitos tanto dos TAC quanto dos motoristas-empregados dentro da legislação vigente.
Decisão do STF defende a segurança jurídica e liberdade empresarial

Finalmente, em 19 de maio de 2020, o Supremo Tribunal Federal emitiu sua decisão. Julgou procedente a ADC e improcedente a ADI, reforçando a constitucionalidade da Lei no 11.442/200:
A decisão do STF repercutiu no meio jurídico e empresarial, trazendo segurança jurídica para as partes envolvidas no transporte rodoviário de cargas. Agora, fica estabelecido que a contratação de transportadores autônomos não configura vínculo empregatício, fortalecendo a liberdade empresarial garantida pela Constituição.

Com essa resolução, o mercado de transporte de cargas ganha clareza e estabilidade nas relações contratuais entre empresas de transporte e transportadores autônomos. Prevalece a autonomia das partes na negociação dos termos contratuais, respeitando-se, é claro, os requisitos legais e os direitos trabalhistas garantidos pela legislação.

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) representa um marco significativo na definição das relações laborais no setor de transporte rodoviário de cargas no Brasil. Ao esclarecer a distinção entre os Transportadores Autônomos de Carga (TAC) e os motoristas-empregados, o STF proporciona uma base jurídica sólida para o funcionamento deste importante segmento da economia.

Essa decisão não apenas assegura a proteção dos direitos dos trabalhadores, garantindo que os motoristas-empregados estejam amparados pelas leis trabalhistas e tenham acesso a benefícios e proteções previstas na legislação, mas também reconhece a importância da viabilidade operacional das empresas do setor.

 

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